#58 Metaverso em Crise: A Batalha dos Gêneros e o Futuro da Moda

A gente sempre se acha o máximo prevendo o futuro, mas vive...

6/11/20244 min ler

A gente sempre se acha o máximo prevendo o futuro, mas vive dando com a cara na porta quando o assunto é mudança. A corda bamba entre utopia e distopia vive balançando, e manter o equilíbrio entre as realidades não é fácil, não.

Um exemplo disso é a onda de roupas sem gênero. Uma pesquisa da Klarna mostrou que 33% dos consumidores já compraram peças que não seguem o padrãozinho de "masculino" e "feminino" – entre a galera da Geração Z, esse número pula para 50%! O conforto, o estilo e o precinho camarada são os principais motivos por trás dessa tendência.

E não se engane, essa onda pode crescer ainda mais, com os espanhóis puxando a fila.

Mas e o Metaverso? Daqui a dez anos, vai ser tipo feijão com arroz pra todo mundo. Avatares, principalmente os mais saidinhos, mexem com a cabeça da galera, tanto online quanto offline. O jeito que a gente se veste, fala e se comporta por lá pode acabar respingando no nosso "eu" do dia a dia.

Só que nem tudo são flores. Enquanto uns curtem essa liberdade, outros querem voltar no tempo. É o caso do movimento "Homens de Verdade", que quer botar o machão de volta no topo.

Milão, 2034

Milão tá numa sinuca de bico: a cidade tenta conciliar a ambição com as consequências do crescimento industrial desenfreado. Apesar de anos investindo em energia limpa, o céu continua cinza e o sol mal aparece.

Sam anda pelas ruas movimentadas, sentindo o peso da cidade, que muitas vezes parece um mundo à parte de sua identidade. Ele para em frente a uma loja chique, cujas vitrines espalhafatosas destoam dos prédios caindo aos pedaços ao redor. Os manequins robóticos, enfeitados com roupas de marca, parecem representar um mundo inalcançável para a maioria dos milaneses.

Sam se vê no reflexo da vitrine – um vislumbre da pessoa que ele mostra para o mundo, diferente da pessoa que ele realmente é. Essa briga interna é uma fonte constante de frustração e solidão.

Nesse mundo de contrastes, o Metaverso surge como uma luz no fim do túnel. Recém-adotado pela galera, ele se tornou um parque de diversões infinito para sonhos virtuais. Sam curte o Metaverso por vários motivos. É um lugar onde ele pode ser ele mesmo sem medo de ser julgado ou discriminado. Cada avatar é um reflexo do seu estilo e personalidade únicos.

Mas o Metaverso também tem seus problemas. O movimento "Homens de Verdade", um grupo de extrema-direita com raízes em vários países, se apossou desse mundo digital. Eles rapidamente se tornaram uma força poderosa, usando o Metaverso como arma, com uma rede de bots movida a IA para espalhar sua propaganda de ódio e inundar o mundo digital com mensagens tóxicas. Eles atacam qualquer um que questione suas ideias ou se desvie de suas normas rígidas de masculinidade.

Seus avatares virtuais, muitas vezes cheios de símbolos militares e armas, se tornaram uma ameaça, patrulhando espaços digitais e assediando quem é diferente. Sam, cujos designs celebram a fluidez de gênero e a expressão individual, logo se torna alvo do ódio dos "Homens de Verdade".

A influência tóxica dos "Homens de Verdade" não fica só no Metaverso. Ela vaza para o mundo real, piorando as tensões sociais já existentes. A desigualdade só aumenta, o meio ambiente sofre com o consumo desenfreado e os desastres naturais estão cada vez mais frequentes e intensos. O discurso online, já tóxico por natureza, vira um ciclo vicioso de ódio e fake news, dividindo ainda mais a sociedade e dificultando separar o joio do trigo.

Um alerta do Threadspace Dueling Circuit tira Sam do devaneio. Um avatar chamado "Brutalis Maximus", com o perfil cheio de símbolos dos "Homens de Verdade", o desafia para um duelo.

O Circuit, famoso por resolver tretas virtuais e mostrar talentos criativos, vira palco para esse embate. As regras estão num contrato inteligente: uma competição de design, julgada por fashionistas e críticos de IA. O vencedor leva fama, glória e o controle do outdoor virtual da Times Square por um dia, com sua mensagem sendo exibida no Metaverso inteiro.

Um duelo com um "Homem de Verdade"? É um risco enorme para Sam, que não pode perder essa parada. Mas a ideia de seus designs serem calados, sua voz abafada pelo coro de ódio, é demais para aguentar. Sam respira fundo e aceita o desafio.

Um silêncio toma conta do coliseu digital quando a criação de Sam é revelada, logo substituído por suspiros de admiração e espanto. A modelo, uma figura andrógina de cabeça raspada e expressão confiante, desfila pela passarela, exibindo um design que não se encaixa em nenhuma caixinha. São tecidos e texturas que mudam de cor, misturando seda com jeans, renda com bordas cruas. A roupa se transforma a cada movimento.

O design de Brutalis Maximus, revelado com um rugido que faz o Coliseu tremer, é o oposto da criação de Sam. O modelo, um avatar musculoso com cara de poucos amigos, pisa duro na passarela. Seus passos ecoam enquanto ele exibe uma monstruosidade de metal e couro, cheia de espinhos e com as insígnias dos "Homens de Verdade". O design inteiro grita agressão e apego a uma masculinidade ultrapassada.

A multidão, um mosaico de avatares de todos os cantos do Metaverso, explode em aplausos e vaias. Os "Homens de Verdade", com seus avatares militares, urram em aprovação, erguendo punhos virtuais. Quem defende a inclusão e a liberdade de expressão se afasta com nojo, virando o rosto ou mostrando emojis de raiva.

A juíza observa tudo. Alguns jurados se inclinam para frente, analisando cada detalhe dos designs. Outros recuam, com expressões de desgosto pela demonstração de agressão e exclusão.

Após um silêncio tenso, a juíza principal, um ícone da moda conhecido por seus designs ousados e pela defesa da liberdade de expressão, se levanta para dar o veredito. Seu avatar desafia a física e atrai a atenção de todos.

"Nesta batalha de visões", ela começa, "vimos duas interpretações opostas de crenças. Uma abraça a liberdade de ser quem você é, a fluidez de gênero e a beleza da diversidade. A outra se agarra a um ideal ultrapassado de masculinidade, tentando enfiar a criatividade em caixinhas."

Ela faz uma pausa, seu olhar varrendo os dois designs na passarela virtual. A tensão é palpável.

"Embora ambas as criações mostrem talento e um entendimento claro de suas ideologias", ela continua, "só pode haver um vencedor neste duelo, e o novo dono do outdoor da Times Square é..."